terça-feira, 25 de junho de 2013

A onda

Isso realmente aconteceu comigo hoje, eu peço por favor que deem ouvidos ao que eu falo!


Eu tinha um estranho sentimento de que em determinada hora do dia aconteceria um evento fora do comum - sobrenatural, se preferirem.

Eu estava em um local com várias lojinhas, como uma galeria de pequenos estabelecimentos comerciais.

Saindo desse local, eu olhei pro céu, vi um avião que parecia um misto de um modelo militar e um comercial. Ele passou relativamente perto do chão, dava pra ver detalhes do avião. Por que ele passou assim perto do chão? Eu achei que fora porque ele havia acabado de decolar, mas eu estava na minha cidade, e minha cidade não tem aeroporto. Pra responder minhas perguntas, uma caixa grande e vermelha caía do céu, quase certamente jogada pelo avião.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Liberdade religiosa e privilégio ilegal

Pode ser o Führer, pode ser o padre local.
Você sabe, às vezes Satã vem como um homem de paz
Man of Peace, por Bob Dylan


Nesta semana o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Vocês devem ter acompanhado na internet todas as polêmicas racistas e preconceituosas nas quais ele se envolveu, portanto quero focar em outro aspecto da polêmica.

No Brasil existe um movimento teísta bastante articulado cuja principal característica é a luta política contra a ampliação de direitos dos homossexuais. Existe até mesmo frentes nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional que se autodenominam a "bancada evangélica"; mais especificamente são neopentecostais.

Tais igrejas são conhecidas por promover verdadeiros shows de horrores: pastor que tira o demônio do corpo da pessoa, cura do câncer, cura da homossexualidade e também doações consideráveis de dinheiro (incluído salários inteiros) e bens pessoais (veículo automotor, casa, apartamentos, etc.).

É trágico que direitos de homossexuais e outras minorias sejam impedidos efetivamente de receberem proteção, sob a alegação de um privilégio ilegal, enquanto pastores dessas igrejas tenham sua denúncia e condenação por estelionato dificultada ou impedida por uma pretensa liberdade religiosa. Isso sim é um privilégio ilegal.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Autoestrada 61 Revisitada

Apertem o play nessa música:

Like A Rolling Stone by Bob Dylan on Grooveshark

Essa batida na caixa é muito mais do a primeira faixa de um grande álbum. Ela significa que uma porta gigantesca tinha sido derrubada para toda música que seria criada depois passar. Somente depois desse álbum o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e o "Pet Sounds" puderam aparecer.

Eu tenho o LP. Há!

Like a Rolling Stone já é por si só um hino, mas quero enaltecer mais ainda o álbum inteiro pois, na minha humildade e amadora opinião, é o álbum mais importante da música.

O álbum foi gravado em apenas 6 dias, e a Autoestrada 61 era a estrada que ligava a cidade natal de Dylan às cidades sulistas famosas pela história musical. Esse disco é o segundo depois da polêmica incursão do genial artista folk no mundo elétrico. E que transição frutífera.

Enquanto os Beatles perfilavam suas músicas alegrinhas e abriam o álbum pedindo ajuda (help! I need somebody), Dylan abria o álbum caçoando de alguém (once upon a time you dressed so fine / you threw the bums a dime in your prime, didn't you?). Ninguém tinha ideia do que viria a seguir.

O álbum é todo muito maduro, tanto musicalmente quanto em suas letras. Ballad of a Thin Man ainda é uma das músicas mais raivosas que conheço, e Queen Jane Approximately ainda é uma das músicas mais bonitas e simples que tive o prazer de escutar. Tudo isso pra culminar na apoteótica canção final do álbum: Desolation Row.

Desolation Row me arrepia. Não apenas ela tem o melhor solo de gaita de Dylan, mas uma das construções de letra mais fantásticas do poeta. Dylan circunda, dá voltas e descreve os personagens bizzaros desta "fila", mas todos invariavelmente voltam para a implacável "Fila da Desolação".

Façam um favor a vocês mesmos: escutem esse álbum com mais atenção.

Eu poderia falar do álbum inteiro, mas quero ser sucinto. Entretanto, pra quem quer saber mais, indico aqui análise magistral do blog Dylanesco sobre o Highway 61 Revisited. Confiram: http://dylanesco.com/o-melhor-disco-de-dylan-pt-1-para-a-historia-do-rock/

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tu não escolhes quando.

Há quem fuja de relacionamentos sérios e há quem os cace constantemente. A verdade é que nenhuma das duas condutas há de te salvar desse sentimento que não vai bater à tua porta, mas vai entrar pela tua janela sem sequer perceberes.

Love Minus Zero by Bob Dylan on Grooveshark

Conversando sobre relacionamentos com uma pessoa, ela dizia querer estar preparada pra ser feliz sozinha antes de pode ser feliz com outra pessoa, e por conta disso não queria gostar demais de alguém por não querer ter motivos pra se prender e querer um relacionamento sério.

A jornada que leva ao estado pessoal de conseguir ser feliz sendo quem somos é comum a todos nós. Aprender a ser feliz consigo mesmo é um equilíbrio saudável e acredito que devemos buscá-lo. Entretanto, não posso deixar de achar audaciosa demais a ideia de impedir-se de gostar verdadeiramente de alguém.

Isso não é algo que possas escolher, sinto muito. Se consegues escolher não gostar mais tanto de determinada pessoa é porque não gostavas realmente.

Podes até tomar atitudes que no futuro te façam gostar menos de alguém. Como, por exemplo, se afastar. Afastar-se de alguém pode levar esse sentimento a ser gradativamente esquecido. Mas eu digo, não faça isso sem ter um motivo muito bom. Não te tortures por motivos bobos, não te impeças de estar com alguém que gostes porque supostamente "não estás pronta". A verdade é que podes ser exatamente o que essa pessoa precisa, procura e quer. E vice-versa.

Eu desejo que encontres teu equilíbrio, que tenhas uma vida centrada e completa em ti mesma. Mas ao mesmo tempo eu desejo que conheças alguém que apareça pra bagunçar tudo isso. Virar tuas certezas de ponta cabeça e fazer com que teu equilíbrio só retorne quando esse alguém entrar na tua balança, repesando tudo.

Alguém que te tire da zona de conforto; alguém que tu converses mentalmente antes de dormir só pra poderes escutar a voz dela; alguém que tenhas um frio na barriga quando o nome dela é pronunciada por qualquer um; alguém que deliberadamente cave um buraco na sua vida no qual apenas ela caiba, e somente ela consegue preencher.

E, com um pouquinho de sorte, te desejo que essa pessoa sinta o mesmo por ti.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Jonah Hex e o compromisso mútuo que temos um para com o outro

"O mundo está repleto de contos fantásticos e muitos deles são verdadeiros, mas um espetáculo engenhoso se intromete entre o narrador e seu público. De alguma forma, nós temos que dominar e dar algum sentido à vida ou isso nos levará à ruína. Só podemos dominá-la ao entendê-la. E podemos entendê-la somente contando uns aos outros a verdade totalmente nua e, se necessário, devastadora."

As I Went Out One Morning by Bob Dylan on Grooveshark

Esse trecho foi retirado de uma história de Jonah Hex, um personagem-lenda no velho oeste americano. Nessa história ele salva um órfão mudo de uma alcateia. Mais adiante, ao final da narrativa, Hex acaba abandonando esse mesmo órfão mudo no meio do frio e da neve das Montanhas Rochosas americanas.

Jonah Hex, por Darwyn Cooke.

A citação do começo desse texto é a reflexão do garoto. Ele se indaga: por que Hex o salvara dos lobos para depois jogá-lo novamente na mesma situação? Hex se solidarizou com o garoto que havia acabado de perder o pai e era atacado por lobos, então o ajudou contra os lobos, mas ele simplesmente não queria a responsabilidade de cuidar do garoto.

O interessante da história é a conclusão do garoto. Muitos analisariam que o garoto foi deixado para morrer, mas ele conclui que Hex, na verdade, havia o ensinado a se proteger de lobos. Olha que fantástico!

O garoto chega a conclusão de que temos um compromisso mútuo de falar a verdade, doa a quem doer, porque somente assim poderemos ajudar-nos a compreender melhor a vida e o próprio ser-humano.

Quantas vezes contamos mentiras ou omitimos coisas pra agradar essa ou aquela pessoa? Vivemos fazendo esse malabarismo social por puro medo de deixarmos as pessoas que gostamos partir, de darmos motivos pra elas tomarem decisões que possam nos machucar - por exemplo, decisões do tipo "se afastar".

O garoto não mentiu sobre o que Hex fez e, ao mesmo tempo, Hex não mentiu sobre as suas intenções, ele simplesmente não iria cuidar do garoto. O garoto nos ensinou que as histórias mais tristes podem ter boas lições, e Hex nos ensinou que...bem, nos ensinou que você pode fazer e ensinar boas coisas mesmo sendo um egoísta filho da puta.

Eles foram verdadeiros um com o outro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Só o inimigo nunca trai

Um relacionamento é sério na mesma medida em que você é sério com a outra pessoa e é forte na mesma intensidade em que você acredita cegamente nela.

Blood On The Ground by Incubus on Grooveshark

E eu não falo apenas do relacionamento amoroso, falo de todos os tipos e níveis de relacionamentos, quer você os classifique por nome ou não.

É claro, não terás o mesmo nível de confiança em todo relacionamento que estiveres. Mas cedo ou tarde te deparas com aquela pessoa que parece ser especial. E não é o fato de não conseguires mentir pra ela, e sim porque mentir pra ela te faz muito mal. Me parece ser um bom sinal para distinguir alguém especial. Eu tenho e tive pessoas assim, e tomara que você também já pôde ter.

E é importante saber, só terás um relacionamento realmente forte se te entregares cegamente e respeitares. Tu só acreditarás na pessoa na mesma medida em que respeitares ela ao ponto de não enganá-la, porque somente acreditarás nela da mesma maneira que sabes que ela pode acreditar em ti. Aquilo que entregas pro relacionamento é um espelho daquilo que sabes que podes esperar. Não há surpresa nenhuma em perderes a fé em um relacionamento ao não entregares respeito suficiente ao outro lado da relação.

É claro que eventualmente vão te machucar. Aliás, como quer dizer a famosa frase do título desse texto, somente as pessoas nas quais confiamos podem trair nossa confiança. Não é uma questão lógica?

Então por que confiar?

Acreditar pode nos fazer felizes. Não é a toa que a religião é um dos fatores comuns em praticamente todas as culturas, por mais isoladas que elas sejam. Confiar é um ato de esperança, é algo derivado desta. A esperança de que eu não preciso mais de provas inequívocas de que aquela pessoa quer o meu bem, de que não preciso desconfiar das intenções dela e posso contar com sua ajuda e respeito.

Parece perigoso? Extremamente. Mas parto da máxima de que o maior perigo que existe é estar vivo, todo o resto é apenas parte do nosso passeio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Já dizia Dylan

Existe uma escuridão circundando tudo que faço desde quando você se foi. É a má vontade criada involuntariamente pra me proteger de todas as outras pessoas que eu não quero querer.

I Want You by Bob Dylan on Grooveshark

Agora em cada noite eu perco dois dias e em cada dia eu perco uma noite. Morro um pouco em minhas próprias mãos porque meu corpo quer provar pra minha mente que eu não consigo mais; ele abdica de andar para onde eu deveria ir ou escrever o que eu deveria escrever porque nada disso vai te trazer de volta.

Na verdade, é ele quem escreve agora: meu corpo. É a maneira cruel que ele próprio tem de forçar conscientemente eu aceitar a realidade.

Pudera eu ter a tua risada como trilha sonora da minha felicidade e teus braços em meus momentos soturnos; ter teu cabelo como descanso pro meu rosto e a fragrância dele como embalo pro meu sono; ver essa tua cara triste e linda que me convida a te conhecer mais e a mergulhar em ti; acariciar os contornos do teu rosto com minha mão como se isso me transmitisse algo mágico e fizesse de mim uma pessoa melhor;  ser deixado sem defesas por esse sorriso de lado que só você dá e desconserta a minha cara mais séria. Mas também, que tipo de chance teria eu contra teu sorriso?

A verdade é que décadas antes de nascermos Dylan já tinha escrito sobre nós, porque eu ainda espero os meus salvadores pedirem pra eu abrir os portões pra ti, afinal de contas eu não nasci pra te perder.