segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tranalho na Nova Economia

O novo século, portanto, trás consigo um relativamente novo paradigma, notado no final da Segunda Grande Guerra, sendo este um “(...) capitalismo mais agressivo, disposto a forçar mudanças globais, e líderes políticos que não vêem alternativa a não ser permitir que o processo continue. (...)”¹. Paralelamente, a ideologia econômica predominante prega o afastamento do Estado do Mercado, enfraquecendo a já combalida presença estatal neste segmento da cultura humana.

Bauman já notava que “(...) a fragmentação política e a globalização econômica são aliados íntimos e conspiradores afinados.”²; uma política visando a diminuição governamental no campo econômico será tão bem sucedida quanto as forças políticas territoriais permanecerem frágeis.

Não podemos deixar de apreciar, entretanto, os objetos ativos sem os quais discutir flexibilidade econômica e competitividade seria impossível e sem sentido: nós, seres humanos; propulsores e destinatários do capitalismo e Estado modernos. Quão afetados somos por esta inexorável coexistência?

Em primeiro lugar, a competitividade, tão necessária para o plano neoliberal, implica, acima de tudo, em uma disputa entre pessoas. Dá-se um passo importante em termos individualistas, já que “quando a solidariedade é substituída pela competição, os indivíduos se sentem abandonados a si mesmos, entregues a seus próprios recursos (...)”³. Essa forma de trabalho incentiva cisões no corpo trabalhista da atualidade, repercutindo inclusive na perda do poder e voz sindical.

Outro fator importante da nova organização do trabalho é a flexibilidade. Sennet diz que o principal motivo dessa busca pelo flexível é reflexo da “(...) volatilidade da demanda do consumidor. (...)”4. O espírito consumista posa como o principal motivo da postura flexível do trabalho, a fim de reinventar, refazer e reformular seu funcionamento. Tais condutas criam o tácito lema “não há mais longo prazo”, que, por sua vez, “(...) desorienta a ação a longo prazo, afrouxa os laços de confiança e compromisso e divorcia a vontade do comportamento.”5

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1 GIDDENS, Anthony; HUTTON, Will., 2004, p. 15.

2 BAUMAN, Zygmunt. 1999, p.77.

3 BAUMAN, Zygmunt. 2009, p. 21.

4 SENNETT, Richard. 2008, p. 59.

5 SENNETT, Richard. 2008, p. 33.


REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS:

BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.

GIDDENS, Anthony; HUTTON, Will. Uma conversa. In: GIDDENS, Anthony; HUTTON, Will. No limite da racionalidade: convivendo com o capitalismo global. Rio de Janeiro: Record, 2004.

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2008.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Individualismo, consumismo e utilitarismo: três conceitos importantes da atualiadde

A análise dessa transição e do começo deste novo século perpassa estes três termos: individualismo, consumismo e utilitarismo.

O novo individualismo, além das características clássicas do cultivo ao “eu” e as liberdades individuais, mostra, nos indivíduos, um “(...) afastamento da tradição e do costume de nossas vidas (...)” e problemas para aceitar “(...) a legislação sobre questões de estilos de vida por formas tradicionais de autoridade (...)”¹.

Ao falarmos do consumismo, temos de diferenciá-lo do mero consumo. Segundo Bauman, “(...) de maneira distinta do consumo, que é basicamente uma característica e uma ocupação dos seres humanos como indivíduos, o consumismo é um atributo da sociedade (...)”². Enquanto o consumo é uma característica natural dos seres humanos (somos consumidores naturalmente devido ao fato de consumirmos o ar para respirar, ou consumirmos os alimentos para nutrir-nos, por exemplo), o consumismo é uma característica socialmente criada de forma que sejamos instigados a desejar, consumir e depois descartar, na forma de um ciclo intermitente, objetos e experiências.

O último termo diz respeito à teoria política de Jeremy Bentham. Em suma, o utilitarismo diz, nas palavras de Bobbio:

“(...) se devem existir limites ao poder dos governantes, eles não derivam da
pressuposição extravagante de inexistentes e de modo algum demonstráveis
direitos naturais do homem, mas da consideração objetiva de que os homens
desejam o prazer e rejeitam a dor, e em consequência a melhor sociedade é a que
consegue obter o máximo de felicidade para o maior número de seus componentes
(...)”³


Essa filosofia coaduna-se com a constatação de Anthony Giddens, pois o individualismo encontra consistência teórica no utilitarismo para argumentar contra regulamentações que venham mitigar o exercício de suas liberdades.

Andando juntos, individualismo e utilitarismo produzem um terreno fecundo para o crescimento e aceitação de uma economia neoliberal frente ao encontro dessa parceria com a pressão consumista da sociedade.
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1 GIDDENS, Anthony. 2005, p. 45.
2 BAUMAN, Zygmunt. 2008, p. 41.
3 BOBBIO, Norberto. 2005, p.63.



REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS:

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 2005.

GIDDENS, Anthony. A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da social-democracia, 5ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2005.