sexta-feira, 8 de março de 2013

Liberdade religiosa e privilégio ilegal

Pode ser o Führer, pode ser o padre local.
Você sabe, às vezes Satã vem como um homem de paz
Man of Peace, por Bob Dylan


Nesta semana o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Vocês devem ter acompanhado na internet todas as polêmicas racistas e preconceituosas nas quais ele se envolveu, portanto quero focar em outro aspecto da polêmica.

No Brasil existe um movimento teísta bastante articulado cuja principal característica é a luta política contra a ampliação de direitos dos homossexuais. Existe até mesmo frentes nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional que se autodenominam a "bancada evangélica"; mais especificamente são neopentecostais.

Tais igrejas são conhecidas por promover verdadeiros shows de horrores: pastor que tira o demônio do corpo da pessoa, cura do câncer, cura da homossexualidade e também doações consideráveis de dinheiro (incluído salários inteiros) e bens pessoais (veículo automotor, casa, apartamentos, etc.).

É trágico que direitos de homossexuais e outras minorias sejam impedidos efetivamente de receberem proteção, sob a alegação de um privilégio ilegal, enquanto pastores dessas igrejas tenham sua denúncia e condenação por estelionato dificultada ou impedida por uma pretensa liberdade religiosa. Isso sim é um privilégio ilegal.

Não quero entrar aqui no mérito da PLC 122/06, tampouco debater se muitas das reivindicações de grupos GLBTS virão futuramente a ferir direitos constitucionais. Quero me ater ao fato de que, embasado em uma visão distorcida, gigante e aparentemente irrestrita de liberdade religiosa, outros princípios constitucionais já são oprimidos.

O próprio pastor e deputado Marco Feliciano é réu em ação que o acusa de estelionato; a referida ação encontra-se no STF para apreciação dos Ministros. A ação, entretanto, em nada tem a ver com indulgências, infelizmente.

É espantoso também verificar a omissão de outras entidades cristãs. Católicos e outros evangélicos pouco ou nada fazem acerca do uso do nome de Deus e da doutrina bíblica para justificar casos escandalosamente claros de estelionato. É uma pena, partindo do pressuposto que seriam eles os mais interessados em ver a cristandade não ser usada como instrumento de prática delituosa.

As críticas a esses absurdos medievais ficam por conta de grupos que já se dedicam a criticar a religiosidade de uma forma geral. Uma posição mais enérgica de grupos verdadeiramente religiosos se posicionando contra o uso da religião para práticas criminosas poderia dar abertura a relações mais simpáticas entre grupos ateus e/ou agnósticos para com estes mesmos grupos teístas.

Seria lindo, não? Ateus e religiosos, juntos, para lutar contra uma prática absurda de qualquer um dos dois pontos de vista: daquele que acredita e daquele que desacredita.

Mas vai ver eu sou um sonhador mesmo.

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